A cabra urbana é mais sofisticada que a emplastro saloia. Já palmilha a cidade há anos, sabe o que quer e pensa, que sabe o que tem que fazer para o conseguir. Tem uma auto estima notável, ao ponto de não ver ao espelho, os seus próprios exageros. 

Começo pelas unhacas, grandes, arranjadas por profissionais. Mas como nem sempre tem dinheiro, por vezes anda para ali a passear as ditas todas lascadas. O cabelo a gritar por socorro. A maquilhagem é quase sempre exagerada. E por causa disso, cumprimenta as amigas com um beijo no ar, os homens com um beijinho a descer pelo pescoço e fala ao telemóvel em alta voz, porque não pode encostar o aparelho á cara, ficava todo besuntado.

Topa as saloias a milhas e faz-lhes a vida negra. Aprendeu a dança de cintura dos escritórios e domina-a como poucas. Está presente em todos os grupos das redes sociais do trabalho, mete-se nas conversas e faz-se de convidada para tudo e mais alguma coisa. Não repara que por vezes não é convidada.

Passa a ideia de que procura o amor eterno, mas na realidade suspira por um sugar daddy.

A emplastro saloia é uma mulher que vive numa zona rural e vem para a cidade fazer qualquer coisa, até pode ser apenas uma visita ao ikea. Sente-se importante, vem com a mania porque lá na santa terrinha, mulheres há poucas e esta ainda faz virar cabeças.

Ta perdida no meio da poluição e barulho e para não parecer burra ri e acena com a cabeça quando falam com ela. Pensa que sabe, mas não sabe nada e imita tudo o que fazes para não parecer deslocada.

Traz um telemóvel todo xpto, mas diz que não tem redes sociais, para disfarçar. Porque na verdade o telele é do primo António e ela não percebe nada daquilo.

As outras mulheres topam-na á distância e arreganham a tacha, então atraca-se aos homens como o ranho dos caracóis e deixa um rasto brilhante de nhanha. 

E a cabra urbana? 

Para a semana conto.